segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mas ele é mais bonito!

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Eu lembro bem quando percebi que tinha algo de diferente em mim, e que isso seria algo importante e que afetaria as pessoas ao meu redor.

Mas vocês sabem, quando somos crianças não sabemos muito bem distinguir as coisas do que é certo ou errado, do que se pode falar e o que não se pode, e principalmente, somos desprovidos de qualquer tipo preconceito. Preconceitos que só futuramente vão se fixando na gente, seja pela sociedade, por nossas idéias, pelas pessoas ao nosso redor, por influências ou por falta de pensar mesmo.

Então a historinha é a seguinte: eu era criança e já sentia esse 'diferente'. Meus pais são divorciados e meu pai mora em outra cidade desde que eu tinha 6 meses, nunca convivi muito com ele. Ele vinha uma vez por ano na nossa casa passar uns dias comigo, com minha mãe, e com meu irmão mais velho. E essa era uma das ocasiões.

Estavamos todos na sala assistindo a cerimônia do Oscar. Eu não entendia direito o que era tudo aquilo, mas já achava fantástico. Todos tão bonitos, tão bem vestidos, andando num tapete vermelho pra ganhar alguma coisa que eu não sabia nem ao certo o que era. E esse era o ano do Titanic! Eu tinha adorado Titanic, já tinha visto mais de uma vez e achava lindo.

E o Leonardo Di Caprio estava entrando em algum lugar junto com a Kate Winslet, o par dele no filme, como vocês sabem. Até que meu pai disse:

"Nossa, essa mulher é muito linda mesmo!", bem enfaticamente.

E eu, na minha ingenuidade e impulso, infelizmente disse:

"Eu prefiro ele, acho ele mais bonito". Pra quê?

Meu pai ficou bravo, disse que eu não podia achar um homem bonito, que ela era mais bonita, muito mais que ele, que eu tinha que achar a beleza nas mulheres, não podia achar homens bonitos, e falou mais um monte e outras coisas de que eu não lembro direito, coisas que eu nem devo ter entedido na época.

Bem, eu senti que o clima ficou pesado na hora, e naquele momento eu percebi que eu era diferente. Tudo por que eu tinha dito algo que ninguém esperava que eu dissesse, algo fora do padrão esperado.

E desde aquele tempo já achava o Di Caprio mais bonito. Ainda acho!
Pelo menos aqui eu posso dizer isso sem ninguém me repreender. E saber que não está errado, muito menos que não deveria ser dito.

Um comentário:

  1. Ai se todos os homens, em todas as suas faces e em todas as idades, fossem como as crianças. Desprovidas de máscaras e pré-julgamentos.
    Adorei a mensagem.

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